27 de fevereiro de 2015

Interdisciplinaridade e formação acadêmica cidadã: o Ciclo de Formação Humanística dos subprojetos PIBID de Chapecó

Ederson Nascimento
Coordenador do Subprojeto PIBID Geografia


Desde o segundo semestre de 2014, os subprojetos PIBID do campus Chapecó da UFFS vêm elaborando uma atividade conjunta intitulada “Ciclo de formação humanística”, que tem o intuito de promover a leitura de textos clássicos de cada uma das áreas científicas envolvidas (Geografia, História, Filosofia, Letras, Ciências Sociais, Pedagogia e Interdisciplinar) considerados transversais, e portanto, fundamentais para a formação cidadã do indivíduo. 

São realizados encontros mensais para apresentação e debate dos textos. Até o momento já foram realizados quatro encontros, quais sejam: 

- Agosto: leitura do livro “O tempo e o vento”, de Érico Veríssimo, com debate conduzido pelo subprojeto de Letras;
- Setembro: leitura de “Discurso do método” de René Descartes, indicada pelo PIBID de Filosofia;
- Outubro: encontro organizado pelo nosso subprojeto, com leitura e debate da obra “O espaço do cidadão”, de Milton Santos, e;
- Novembro: dois capítulos do livro “Formação das almas: o imaginário da República no Brasil”, de José M. de Carvalho, sugeridos pelo PIBID de História.

Para cada um dos encontros, todos os participantes do PIBID (bolsistas, supervisores e coordenadores de área) fizeram a leitura dos textos indicados e participaram dos debates, cuja condução ficou a cargo dos bolsistas do subprojeto que indicou a obra. No caso do subprojeto de Geografia, foi feito ainda um debate da obra¹ do geógrafo Milton Santos em um encontro interno do grupo antes de realizar o debate com os demais subprojetos, a fim de dirimir dúvidas e orientar os estudantes para as apresentações.



Debate do livro "O espaço do cidadão", promovido pelo subprojeto PIBID de Geografia.
Na foto, da esquerda para a direita: Maycon Fritzen, Bernardo Luza, Verenice Pappis (bolsistas), Ederson Nascimento (coordenador de área), Daniela Wagner, Michelli Zamboni e Mirian Pegoraro (bolsistas).


Os encontros de formação, que prosseguirão em 2015, têm contribuído com a formação acadêmica e cidadã dos participantes, ao oportunizar a leitura de importantes obras oriundas de campos do conhecimento diferentes da área pessoal de graduação. Além disso, ajudou os pibidianos a desenvolverem sua oratória, ao oportuniza-los (e desafiados a) falar para uma plateia com número considerável de ouvintes, e de diferentes áreas do conhecimento científico. 


¹ Uma das mais importantes obras do pensamento geográfico e social, o livro "O espaço do cidadão", foi publicado em 1987 pela editora Nobel, tendo várias reedições posteriores. Atualmente, a íntegra do texto também está disponível para acesso livre na coletânea de textos de Milton Santos intitulada "O espaço da cidadania e outras reflexões" (item III.3), organizada pela Fundação Ulysses Guimarães.



Migrações forçadas, colonização e desigualdades sociais na América Latina: confecção de mapas de fluxos para o entendimento da dinâmica migratória

Daniela Feyh Wagner e Joel dos Santos Pereira
Bolsistas PIBID


Introdução

O termo migração corresponde à mobilidade espacial da população. Migrar é trocar de país, de Estado, de região, de cidade. Esse processo ocorre desde o início da história da humanidade. O ato de migrar faz do indivíduo um emigrante ou imigrante. 

Emigrante é a pessoa que deixa um lugar de origem com destino a outro lugar;
O imigrante é o indivíduo que chega em um determinado lugar para nele viver.

Dentre as migrações, tem-se as espontâneas e forçadas:

Migrações espontâneas – quando o sujeito planeja, espontaneamente, migrar para outro lugar, seja por motivo econômico, político ou cultural;
Migrações forçadas – quando o indivíduo se vê obrigado a migrar de seu lugar de origem, ou seja, migra contra sua própria vontade;

Com as grandes navegações e a expansão do capitalismo, registrou-se um grande aumento no fluxo de pessoas, principalmente vindo da Europa em direção às Américas. Devido a constante demanda de mão de obra e devido à proibição que a Igreja Católica impôs em escravizar os indígenas nativos para trabalhos forçados, os europeus buscaram na África esses trabalhadores, estimulando o aprisionamento de nativos no interior do continente, por meio de guerras tribais. Estes negros aprisionados eram posteriormente trocados por mercadorias e levados aos navios negreiros, nos quais eram transportados para trabalharem como escravos na Américas.

O tráfico de nativos africanos é considerado o maior fluxo migratório forçado já conhecido, que durou de meados do século XVI até meados do século XIX. O comércio envolveu a movimentação de mais de 3 milhoes de pessoas.

As colônias europeias da América Latina foram colônias de exploração, em que a terra servia somente para obtenção de lucros à metrópole, ou seja, tudo que era produzido ou retirado da natureza era levado embora. Não havia preocupação com o mercado interno das colônias, sendo que mais tarde, ao se tornarem repúblicas, os países recém livres estavam desestruturados.

De acordo com Boligian (2005, p. 99)

“Os países da América Latina possuem dívidas internacionais desde quando se tornaram independentes, devido aos onerosos gastos que tiveram durante o processo de descolonização ou até mesmo para custear suas despesas após desligarem-se das metrópoles”.  

As desigualdades começaram nas suas independências e continuaram aumentando, como pode-se perceber hoje, existindo uma grande desigualdade social nestes países, sendo a região mais desigual do continente Americano em termos econômicos, sociais e culturais.

A distribuição de renda é muito irregular, fazendo que haja bolsões de pobreza em todos os países. As populações na sua grande maioria vivem nos grandes centros, convivendo com o desemprego, subempregos, falta de educação, saúde e infraestruturas adequadas.

Durante décadas os países da América Latina vem tentando se livrar da dívida externa, sendo poucos os que conseguiram pular de países subdesenvolvidos para países em desenvolvimento.


Atividades desenvolvidas com duas turmas do oitavo ano

Após o estudo de conceitos referentes às migrações, à colonização das Américas, houve um estudo mais aprofundado sobre migrações forçadas (o tráfico negreiro), com a exibição de parte do filme “La Amistad” (1997). Com o recorte do filme, os alunos puderam perceber como eram tratados os escravos, as injustiças que sofriam.

Após o vídeo, foram desenvolvidas atividades em 3 etapas:

1. Os alunos elaboraram vídeos sobre a África, mostrando as desigualdades existentes no país, como também fizeram pesquisas sobre a cultura, onde trouxeram à aula músicas sobre o continente africano;
2. Houve a elaboração de mapas de fluxo, em que com o uso da Cartografia foi possível o entendimento da dinâmica dos fluxos migratórios forçados da África em direção às Américas;
3. Como terceira e última atividade avaliatória, foi elaborado um questionário para ser respondido pelos alunos, sobre tudo o que foi estudado sobre migrações, como também sobre as desigualdades sociais resultantes do processo de colonização.



Mapas de fluxos sendo elaborados.



Um dos mapas de fluxos produzidos pelos estudantes.


Foi possível perceber o interesse que ambas as turmas apresentaram em relação ao assunto, principalmente em relação à produção dos mapas de fluxo. O contato com a cartografia destacou a habilidade de alguns alunos com desenhos. Outra atividade, a produção de vídeos sobre a África mostrou a habilidade de outros, sobre elaboração e edição de imagens, seleção de músicas. A atividade com as perguntas gerais sobre as temáticas abordadas infelizmente não foi muito proveitosa, pois foram poucos os alunos que devolveram o questionário respondido, entretanto os que devolveram haviam elaborado boas respostas.

O trabalho realizado mostrou-se muito proveitoso, com resultados muito positivos para nós, professores em formação.


Estrutura etária e população da Europa: estratégias em sala de aula

Maycon Fritzen e Renato Canonico de Souza
Bolsistas PIBID


Para cada tema que nos propomos a trabalhar em sala de aula, surgem dificuldades quanto às possibilidades de organizar uma metodologia que torne a atividade instigante e ao mesmo tempo aprofunde a construção do conhecimento com a participação dos alunos. Mais especificamente, quando observa-se em específico um continente, no nosso caso o continente europeu, já vislumbra-se para o conteúdo referente a estrutura etária e a população algumas possibilidades teóricas e práticas bastante efetivas.


Pensando nessas metodologias possíveis, traçou-se a estratégia de construir um entendimento processual de conceitos fundamentais da demografia, para entende-los numa teoria maior de evolução demográfica para então observar o caso específico de Europa, mas também colocando como comparativo próximo à realidade dos alunos o caso brasileiro. Nesse sentido, estudaram-se primeiramente as taxas de natalidade, mortalidade e a expectativa de vida. Esses três dados articulados formam a tese central da teoria de transição demográfica, que explica muito da realidade do crescimento e envelhecimento da população e diferentes países. Conhecendo os conceitos, os alunos compreenderam facilmente a construção do seguinte gráfico:



Fases da transição demográfica
Fonte: UOL Educação



O gráfico foi construído na lousa, apresentando fase a fase da transição e exemplificando os motivos e cada mudança, relacionados principalmente ao estilo de vida da população e os avanços científicos no campo da saúde. Dessa forma já foi possível fazer o paralelo com a própria trajetória dos alunos, que tem na sua maioria os avós vindos do campo, os pais participando do processo de êxodo rural e eles próprios a geração que nasce e cresce no contexto urbano. Finalmente o terceiro momento da aula com o 9º ano foi dedicado a observar como isso se reflete nas pirâmides etárias de cada década, apresentando as pirâmides etárias de diferentes países da Europa, da década de 1980, 1990 e de 2010. Com o suporte teórico de artigos que tratam o comparativo com o caso brasileiro, também é possível estabelecer um paralelo com o Brasil, bastando colar na lousa as pirâmides etárias previamente impressas para tal fim. 

A atividade foi bastante produtiva e deu conta de abarcar conteúdos e conhecimentos que o próprio livro didático não traz no seu texto, limita-se apenas a mencionar em algumas frases. Esse exercício de observar primeiramente uma construção teórica e posteriormente dados demográficos mais antigos e atuais conseguiu mostrar como efetivamente se dá o processo de transição demográfica e explicar boa parte das dificuldades que os países europeus enfrentam hoje, com o envelhecimento da população.


Leitura Sugerida

SILVA, Barbara-Christine Nentwig. SILVA, Maina Pirajá . Brasil e Europa: uma análise comparativa das estruturas etárias. Scripta Nova (Barcelona), v. XIV, p. 310-322, 2010.