29 de setembro de 2014

A Geopolítica na Sala de Aula

Maycon Fritzen
Bolsista PIBID


Em primeira vista a Geopolítica aparenta ser uma área do conhecimento geográfico que acolhe uma gama de conteúdos muito sistemáticos e rígidos, intransponível por práticas pedagógicas diferenciadas. A compreensão da organização do espaço mundial a partir da disputa de poder entre grupos sociais ou mesmo entre países é sempre composta de esquemas conceituais e de uma sequência de fatos históricos, o que perpassa de antemão um roteiro “tradicional” de ensino, e não dá abertura para atividades mais lúdicas em sala de aula. No contexto escolar, se buscamos uma Geografia renovada, precisamos arejar não apenas os seus conteúdos e o modo como são organizados, mas também o modo como se dá o trabalho pedagógico em sala de aula.

É nesse sentido que buscamos realizar com os alunos da turma de nono ano (92) da EEB Tancredo Neves uma atividade intitulada E se a sala de aula fosse o mundo?, com o intuito de trazer as relações desiguais de disputa pela hegemonia econômica e militar para a sala de aula, aproximando à sala de aula de uma realidade que não se apresenta de maneira intensa no cotidiano dos alunos, mas que dita o ritmo do mundo através da hegemonia de alguns países  no campo geopolítico.

Primeiro dividiu-se os alunos em grupos de três, cada grupo com um país correspondente e que deveria selecionar entre os componentes do grupo um soldado, um presidente e um cidadão. Os países escolhidos previamente trazem extremos entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, são eles: Estados Unidos, Brasil, México, Alemanha, China, Haiti, Senegal, Namíbia, Mongólia e Coréia do Norte. Na sequência, a riqueza econômica da sala, simbolizada pelas mochilas e material escolar dos alunos, foi redistribuída conforme a proporção do Produto Interno Bruto de cada país no contexto mundial. Países ricos acumularam mais mochilas do que integrantes, enquanto os países pobres ficaram com, no máximo, uma caneta. Na sequencia, redistribuíram-se os soldados integrantes dos grupos, com a China, Estados Unidos e Alemanha acumulando mais que um soldado segundo os dados disponíveis sobre as forças armadas de cada país.

Depois de organizados os grupos, países e redistribuições, a tarefa para o segundo momento foi iniciar a produção nacional, caracterizada pela elaboração de um texto com o título “O contexto geopolítico mundial após o final da Guerra Fria”, decorrente das discussões que já havíamos realizado em aulas expositivas anteriores. As primeiras dificuldades aparecem: como um país que não tinha as condições materiais poderia produzir? Afinal, havia grupos apenas com uma caneta. Então encaminhamos a reunião do nosso conselho da Organização das Nações Unidas – ONU, composto pelos presidentes de todos os países. Assim, alguns países como a China, ofereceram soldados para ajudar mesmo sem fornecer o material e a Alemanha providenciou “ajuda humanitária”, emprestando cadernos e canetas aos países pobres. Finalmente os alunos encaminharam a elaboração do texto, segundo o país com o qual foram sorteados. Na aula seguinte, foi necessário retomar a atividade, perfazendo novamente o caminho realizado durante a dinâmica com os alunos descrevendo sua experiência enquanto países ricos e países pobres.

Certamente a renovação do ensino da Geografia escolar passa pela criatividade de quem está em uma posição de responsabilidade direta pelo processo de ensino, aprendizagem e avaliação: o professor. É inerente ao labor professoral que sempre estejamos inovando, tanto em teorias-conteúdos como em práticas. A dinâmica do espaço geográfico sob a globalização faz com que a cada dia presenciemos um mundo mais complexo e de fluxos mais rápidos, sendo assim, porque vamos perder a oportunidade de também inovar e (re)invertar a cada dia nossas práticas em sala de aula? É libertando-se das amarras do ensino tradicional e caminhando na direção de um ensino dinâmico e criativo que tornaremos a Geografia um campo do conhecimento científico cada vez mais apaixonante aos nossos alunos.