Maycon Fritzen
Bolsista PIBID
Em
primeira vista a Geopolítica aparenta ser uma área do conhecimento geográfico
que acolhe uma gama de conteúdos muito sistemáticos e rígidos, intransponível
por práticas pedagógicas diferenciadas. A compreensão da organização do espaço
mundial a partir da disputa de poder entre grupos sociais ou mesmo entre países
é sempre composta de esquemas conceituais e de uma sequência de fatos
históricos, o que perpassa de antemão um roteiro “tradicional” de ensino, e não
dá abertura para atividades mais lúdicas em sala de aula. No contexto escolar,
se buscamos uma Geografia renovada, precisamos arejar não apenas os seus
conteúdos e o modo como são organizados, mas também o modo como se dá o trabalho
pedagógico em sala de aula.
É nesse
sentido que buscamos realizar com os alunos da turma de nono ano (92) da EEB
Tancredo Neves uma atividade intitulada E
se a sala de aula fosse o mundo?, com o intuito de trazer as relações
desiguais de disputa pela hegemonia econômica e militar para a sala de aula,
aproximando à sala de aula de uma realidade que não se apresenta de maneira
intensa no cotidiano dos alunos, mas que dita o ritmo do mundo através da
hegemonia de alguns países no campo
geopolítico.
Primeiro
dividiu-se os alunos em grupos de três, cada grupo com um país correspondente e
que deveria selecionar entre os componentes do grupo um soldado, um presidente
e um cidadão. Os países escolhidos previamente trazem extremos entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, são eles: Estados Unidos, Brasil, México,
Alemanha, China, Haiti, Senegal, Namíbia, Mongólia e Coréia do Norte. Na
sequência, a riqueza econômica da sala, simbolizada pelas mochilas e material
escolar dos alunos, foi redistribuída conforme a proporção do Produto Interno
Bruto de cada país no contexto mundial. Países ricos acumularam mais mochilas
do que integrantes, enquanto os países pobres ficaram com, no máximo, uma
caneta. Na sequencia, redistribuíram-se os soldados integrantes dos grupos, com
a China, Estados Unidos e Alemanha acumulando mais que um soldado segundo os
dados disponíveis sobre as forças armadas de cada país.
Depois
de organizados os grupos, países e redistribuições, a tarefa para o segundo
momento foi iniciar a produção nacional, caracterizada pela elaboração de um
texto com o título “O contexto geopolítico mundial após o final da Guerra
Fria”, decorrente das discussões que já havíamos realizado em aulas expositivas
anteriores. As primeiras dificuldades aparecem: como um país que não tinha as
condições materiais poderia produzir? Afinal, havia grupos apenas com uma
caneta. Então encaminhamos a reunião do nosso conselho da Organização das
Nações Unidas – ONU, composto pelos presidentes de todos os países. Assim,
alguns países como a China, ofereceram soldados para ajudar mesmo sem fornecer
o material e a Alemanha providenciou “ajuda humanitária”, emprestando cadernos
e canetas aos países pobres. Finalmente os alunos encaminharam a elaboração do
texto, segundo o país com o qual foram sorteados. Na aula seguinte, foi
necessário retomar a atividade, perfazendo novamente o caminho realizado
durante a dinâmica com os alunos descrevendo sua experiência enquanto países
ricos e países pobres.
Certamente
a renovação do ensino da Geografia escolar passa pela criatividade de quem está
em uma posição de responsabilidade direta pelo processo de ensino, aprendizagem
e avaliação: o professor. É inerente ao labor professoral que sempre estejamos
inovando, tanto em teorias-conteúdos como em práticas. A dinâmica do espaço
geográfico sob a globalização faz com que a cada dia presenciemos um mundo mais
complexo e de fluxos mais rápidos, sendo assim, porque vamos perder a
oportunidade de também inovar e (re)invertar a cada dia nossas práticas em sala
de aula? É libertando-se das amarras do ensino tradicional e caminhando na
direção de um ensino dinâmico e criativo que tornaremos a Geografia um campo do
conhecimento científico cada vez mais apaixonante aos nossos alunos.